segunda-feira, abril 28, 2008




O Pescador, O Mar e O Luar









Um breve pestanejar pelas tuas mãos e que me levou ao barco onde me excluí eu do resto do mundo inexistente. Foi uma exclusão em nome do teu nome e no meu nome, assim te o digo, enquanto ternura abro a minha mão e escuto do tempo o encanto do vento que me sopra terno, maresias de segredos em teu nome e que nascem aromas pelos teus dedos, quando na minha mão pelo teu coração desenham eles única e carinhosamente o meu coração.
Em nome das tuas mãos, assim te o disse e assim te o direi. Em nome do toque sentido em que te pintei uma cor e depois outra, e depois mais outra ainda, até que por fim, quando amanheceste no olhar dos meus olhos e com que olhei eu de novo o céu, este, translúcido e cristalino apenas e gentilmente só o seu azul nas cores do vento ele assim me segredou, quando em brisas de carinho o nome de todas as cores e de todos os tons de cada sorriso teu, em asas de voar ele assim libertou e solto os soltou. Soltou-se assim, o sorriso do teu rosto pelo correr dos campos com que ele me os soletrou, e que eu agradecido e num gesto embevecido uma única nuvem pedi, uma nuvem que ao branco colhi e em carinho as aconcheguei, quando pelos teus olhos chama cor dos meus, os meus olhos enlevados chorei e o teu nome num encanto soletrei.
E chorei. Chorei o aroma a terra molhada, o perfume e o âmbar que pelos teus dedos no meu nome e pelas águas florescia, em voos infinitos de crescendos laivos em rodopios de maresia. Chorei nas cores dos teus olhos a aguarela dos dias em que escreves tu nos meus, o tempo e a mais bela das poesias. Dos dias, em que na beleza singela de um sorriso e de uma flor, abracei eu a leveza numa gota de água, numa única flor que no seu mais cristalino amor, assim ela bela me ditava, letra a letra, todas as letras do traço de um rosto que desde cedo pelos madrugares de um mar, acreditei eu ler na aurora dos teus olhos, todos os sonhos que se devolviam em candura ao mar, em conversas deste com o seu mais lindo luar.
E nada existia. Nada existia antes da aurora, essa que do meu madrugar criou este mar. Nem antes na noite que a precedeu, nem nunca nos passados que não foram eu. Eu que os meus olhos a nascer silenciei, quando os teus, calado, pingada e carinhosamente olhei nos contornos de toda uma ternura com que sempre eu os sonhei e teus para sempre os delineei.
Abandonei-me assim de tudo no que não era eu. E na primeira aurora do primeiro madrugar, enfunei eu velas e soprei ventos, pintei o céu e aves com asas de voar, onde em nuvens de algodão pudessem elas descansar no branco, o doce da maresia com que anuncias tu o nascer do dia. E tudo ao relento nesta mão, esta, com que me fiz eu ao mar e que me segurava o coração, enquanto sob o mais lindo manto de estrelas a brilhar eu os meus sonhos entregava ao mais terno e carinhoso embalar dos teus cabelos ao luar.
Tudo no fundo, em prol deste meu tempo e do afecto que queria nele ver transparecer, como o mais puro cristal das manhãs e das madrugadas que te acordassem leves e frescas pelo escorrer macio da pele. Como esse mesmo puro e límpido cristalino de águas em cristal em que desde bem cedo, te imbuí eu, nas minhas mais profundas verdades ao assim te as entregar, desrespeitando o tempo em nome de uma destruição efectiva do espaço por tocar e das distâncias por alcançar. Aniquilei o tempo ao vê-lo parar, quando chamei pelo nome do meu coração e em resposta foi somente o nome do teu, que ele suspirou e assim me o soletrou.
Bem verdade, que tudo por isso assim eu o faço. Que por tudo isso, me tenho eu entregue ao correr das esperanças por prados libertos de mim, onde a imagem de ti, é a mais bela tela que as minhas mãos possam colher, e que, com que os meus dedos algum dia, possa eu almejar em transcrever para um desenho, uma palavra, uma letra apenas que seja, deste tão único e lindo quadro resultante do florir de um coração pela mão aberta de um só bem querer, neste fluír pela correnteza da ternura que apenas me aponta para onde estão as nascentes a florescer e os rios para ti a correr.
E tão únicos são. Tão unicos são esses rios que se escrevem pelos aromas do meu sentir e que no almejar de um voar por ti a fluír, são eles os mesmos que correm auridamente no meu coração, quando por eles, este lhes desenhou um mar para o seu desaguar e do encanto da sua voz a chamar fez ele a serena e selena foz, onde nas suas águas sussurra ele baixinho ao luar, segredos e estórias por contar, num embalar terno de sonhos e lugares por sonhar. Os mesmos onde pelas suas margens, guardo eu carinhosamente como pétalas de uma flor, uma única flor, quando ternamente pela madrugada lhe chamei eu simplesmente amor. E tudo para que um dia, pudesses tu aos teus olhos dizer que, apenas e sempre existiu um e um só eu, um eu aquando na plena consciência quando irmanada da emoção, aquele que assim tu a ti te o dissesses e aos teus olhos em silêncio o fizesses.
Este eu que afinal era ele, o pescador. Aquele que sempre e afinal tinha sido quem com as brisas num encantar falava e que pelos rios da sua mão, assim ele num único beijar, ternamente ao teu coração ele as soprava em manhãs de aromas no adocicar de azuis céus em beijos por segredar e só pelo teu coração a chamar. Dizia ele. Eu, o mesmo quem os continuará pelas brisas de um sempre a sussurrar e destes meus lábios, em carinho, pelos seus lábios a soprar.
Aquele que, mesmo acossado pelas águas fortes da indiferença e das antigas tempestades das vizinhanças que não escolhia, delas sentia tão somente nos seus ossos a pele gelar, quando taciturno e sozinho, o levaram a vaguear em busca de uma compreensão ou da palavra quente de um aconchegar, tão apenas, aquela feita da mão agarrada e liberta da incerteza da palavra e do deambular desta por caminhos que sempre desconheceu e onde afinal acabou por encontrar, apenas e somente a diferença na sua indiferença. A diferença de quem apenas quis ser um só eu, um só facilmente reconhecido pelo nome que sempre chamou e por quem sempre e só por uns seus olhos também assim sempre ele procurou.
Mas a indiferença até na diferença lhe marcava a incerteza dos dias. Indiferença, aquela eterna resultante dos mal entendidos e dos raciocínios errados. Esses mesmos, os que gritam por dentro o desconhecido e a ignorância dos porquês da não causalidade dos efeitos. Esses mesmos efeitos que encerram caminhos e escondem esperanças da nossa mão, colocando-as nas mãos de densos e expectantes nevoeiros que não se deixando descortinar, muito menos pelo vento e pela carícia de uma brisa, eles se deixam sequer tocar. Tão grande é o seu receio de um dia acabarem estes por se dissipar e no seu lugar nascer apenas uma flor, uma palavra de carinho a tocar lentamente na manhã de uma ternura, a raiar horizontes e a traçar fontes, onde antes se pretendiam construir apenas pontes.
Era essa a ferida que colheu à terra, quando mesmo assim preferiu manter-se no fado de um barco cujo destino nunca equacionou nem equacionará por uma qualquer réstia do seu tempo que seja, porquanto e sempre neste mar e pela grandeza de toda a sua beleza, souber ele existir uma praia construída de sentimentos num marulhar sucessivo de asas a desaguar na liberdade de um só seu voar, onde e como se cada onda, todas as ondas trouxesse nela, onda a onda, todo o murmurar de mágicos sussurrares em luares de encantar, eternamente cantados no encanto de um mar que adormece ternamente num areal sob o mais belo dos mantos estelares, onde desde os evos dos tempos, em que o mar se lembra de ser mar, e dia a dia, desde esse dia, noite a noite, por todas as noites, apenas e só ele no traçar de uma estrela e de olhos postos no terno olhar da sua lua por ele a zelar, assim sozinho geme ele ao luar todas as noites ao se deitar, quando apenas lhe pede ser único o seu acordar, para assim louvar cada aurora em cada eterno nascer, do seu acreditar ao madrugar.
E o pescador, olhava assim o mar e nele espelhava o seu amar. A sua ânsia de à praia um dia chegar e no seu areal adormecer ternura num eterno bem querer, onde na companhia de uma única estrela e da sua lua, ele a sua voz e os seus olhos em sonhos que guardava sempre por sonhar, assim poder o seu olhar neles descansar.
E bem verdade, que quase desde os evos da criação do mar, que ele sentia que haviam ventos aziagos e nuvens de desespero, que ali vinham tentar semear istmos de terra e laivos de tempestades em subterfúgios de mágoas para sorridentes e malfadados destinos mal calados. Mas o pescador, não se querendo aperceber de tal - puramente ignorou todo o sal que não era o do seu mar, pois as águas onde navegava e o vento que lhe bolinava nas velas do pequeno barco, à parte aquele que lhe chegava aos ouvidos e onde muitas vezes surgiam como perdidos e desirmanados gritares de ódio e raivas de alguns trejeitos que não eram os do seu vento, esse sim, profunda e alva pertença das suas nuvens e que em verdades por silênciar, continuava ele sempre a soprar e a ser o acreditar que trazia ele guardado no coração pelo seu mar.
Assim, tudo a ele lhe parecia, tal como lhe parece e é, límpido e das mesmas águas feito que este. Do mesmo algodão e do mesmo primeiro beijo solto que soltou na brisa e que esta para ti levou, quando à muitas auroras e madrugadas atrás, do seu ancestral mar e com as mais lindas e puras de branco, brancas nuvens do céu, pela primeira vez espalhou ele no primeiro sopro concedido pelo seu coração, todo o seu terno e infinito de carinho desejo te enviou, quando o primeiro e terno beijo às brisas entregou e assim a partir daí e para sempre, só por ele assim ele te cantou.
E do que conhecia de outros pescadores e de outros mares, bem fácil poderia ele, face a desventuras vizinhanças, desavindas e grandes tempestades, grandes reboliços em águas onde navegava suas e sem mudanças, bem facilmente, poderia ele trocar de barco, camuflá-lo com outras cores e afunilar velas com os mesmos ventos e o mesmo fado por cantar os mesmos alentos. Mas e a praia? Será que a praia reconheceria este novo velho pescador e a sua embarcação nova? Será que a partir da transformação da essência pelas vizinhanças roubada e vilipendiada, tudo não seria um marulhar repetido e exausto para uma praia que já não identificava o pescador, no receio das suas múltiplas transformações? Quis-se um dia único, afirmando-se inequívocamente. Dizia ele. Digo-o eu. Único tal como o seu barco, o seu mar, o seu vento e as suas nuvens, tudo para que quando chegasse, e se chegasse, um dia à sua praia dos infinitos e ternos marulhares, ele pela sua lua ser nos seus braços e em ternura de carinhos recebido, quando num seu descansar pela areia sentido, ter ele sempre o luar, a quem os seus sonhos entregar e no silêncio de um olhar, ter ele o mar e segredos seus para com as estrelas partilhar.
E tantas e quantas vezes olhou e conversou ele com o céu e as estrelas, que nos rios da sua mão desaguavam em luz no seu coração. Tantas e quantas vezes, no silêncio de um grito, ele se perguntou sabendo que a resposta sempre assim o calou, mesmo antes de se perguntar, mesmo depois de se calar. Perguntava-se a si próprio em respostas a uma estrela. Reconheceria ela um pescador metamorfoseado em nome e em prol apenas de conceitos e afecto a trejeitos? Indicar-lhe-ia ela o caminho até à sua praia, se assim fosse? Não sabe. Num grito o pescador, calou-se. Mas ainda lá está, dizem. No meio do seu mar, oceano dos teus braços, vento dos meus lábios a soprar. Ainda lá estou, digo-o eu assim. E lá morrerá morrerei, se aquela única estrela que eternizei, o caminho neste mar para a praia do eterno marulhar e do manto de estrelas a brilhar, nunca ela à luz do luar assim me o indicar.















Solar Nature




Photografia: Mikhail Trakhtenberg
Musika: Reiki - "Floating"